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Prefeito de Querência quebra o silêncio e defende estrada construída no Xingu: “Foi uma demanda legítima dos povos indígenas”

Atualizada em 04/08/2025

IMG_1421.jpgQUERÊNCIA - O prefeito de Querência, Gilmar Wentz, se manifestou pela primeira vez sobre o inquérito instaurado pelo Ministério Público Federal (MPF) que investiga a construção de uma estrada de 143 quilômetros dentro da Terra Indígena Parque do Xingu. A via, aberta sem licença ambiental, teria causado o desmatamento de aproximadamente 143 hectares e resultou em uma multa superior a R$ 500 mil aplicada pelo Ibama contra a Prefeitura Municipal.

Em entrevista exclusiva concedida ao Notícias Interativa no sábado, 2 de agosto, o prefeito afirmou que a estrada conhecida como “Ilha Grande–Aiha” foi um pedido antigo das comunidades indígenas da região, que enfrentavam sérias dificuldades de locomoção. “Essa estrada foi um anseio da comunidade indígena. Os moradores precisavam de dias inteiros navegando pelo rio para chegar à cidade. Era uma situação extremamente difícil”, declarou.

Wentz relatou que esteve pessoalmente na aldeia Ilha Grande em 2015, em sua gestão passada, onde caciques da região propuseram a construção de uma via de acesso por terra. Segundo ele, à época os indígenas já vinham abrindo uma “picada” com machado e motosserra para possibilitar o tráfego de motos e pequenos veículos, com o objetivo de facilitar o transporte de suprimentos, alimentos e atendimentos médicos. “Era uma situação de emergência humanitária”, reforçou.

A abertura da estrada foi efetivada durante a gestão do ex-prefeito Fernando Gorgen, em 2018, mesmo sem licença ambiental. “Foi uma decisão corajosa, porque sabíamos que os trâmites legais não andavam. A estrada foi aberta, e hoje beneficia centenas de indígenas que têm acesso à saúde, educação e outros serviços básicos. Foi uma questão de dignidade”, pontuou.

Sobre a multa aplicada pelo Ibama em fevereiro deste ano, o atual prefeito afirmou que só tomou conhecimento após a instauração do inquérito pelo MPF. “Fiquei sabendo agora, com a notificação. Desde que assumi, não houve abertura de nova estrada, apenas manutenção nos pontos mais críticos, onde pontes estavam quebradas e a comunidade isolada”, explicou.

Gilmar Wentz também reconheceu que a obra não seguiu os ritos legais exigidos, mas destacou que o impacto ambiental deve ser analisado com equilíbrio. “Querência possui 747 mil hectares de área indígena. Desmatar 143 hectares para garantir o direito de ir e vir não é desproporcional. Não é para plantar soja nem milho. É para dar acesso a serviços públicos.”

O prefeito reiterou que a Prefeitura está elaborando sua defesa jurídica e que ainda não é possível prever as consequências do processo. No entanto, defendeu que a prioridade deve ser a população beneficiada pela estrada. “Se tiver que haver compensação ambiental em outro local, vamos analisar. Mas não podemos punir as comunidades que finalmente conseguiram acesso digno à cidade.”

Wentz encerrou a entrevista criticando a morosidade dos órgãos ambientais para regularizar vias em áreas indígenas. Segundo ele, as limitações legais acabam por perpetuar o isolamento de povos que necessitam de integração e atendimento estatal. “Se dependêssemos só da legislação, Querência não teria sequer os 400 mil hectares de produção agrícola que possui hoje. Precisamos buscar um equilíbrio entre a preservação ambiental e os direitos humanos dessas populações.”

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MPF abre inquérito para apurar construção ilegal de estrada dentro da Terra Indígena Parque do Xingu

O Ministério Público Federal (MPF) instaurou um inquérito civil para investigar a construção de uma estrada de aproximadamente 143 km dentro da Terra Indígena Parque do Xingu em de Querência (MT). A obra, sem autorização ambiental, dá acesso à Aldeia Ilha Grande e teria resultado na devastação de cerca de 143 hectares de vegetação nativa.

Segundo relatório do Ibama, a construção tem média de 10 metros de largura, gerando um auto de infração contra a Prefeitura de Querência, aplicada em 12 de fevereiro com multa que ultrapassa os R$ 500 mil. A portaria, assinada pelo procurador da República Gabriel Infante Magalhães Martins, destaca que o município pode ser responsabilizado civilmente pelos danos, em caráter objetivo e solidário).

A iniciativa do MPF segue os princípios constitucionais de proteção ao meio ambiente e às terras indígenas, cabendo ao órgão promover ações civis públicas em caso de infrações desse tipo. O inquérito tramita na 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF e visa identificar todos os agentes envolvidos, incluindo servidores municipais e eventuais terceiros beneficiários da via irregular.

A Terra Indígena Parque do Xingu é considerada uma das mais importantes reservas multiétnicas do Brasil, abrigando diversos povos originários, entre eles os Kamaiurá, Kuikuro, Yawalapiti e Matipu. A estrada, conhecida como “Ilha Grande–Aiha”, está localizada em área de transição entre Cerrado e Amazônia, ecossistemas de alto valor biológico e cultural.

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