Memórias do Seminário: Alcides Cecatto revive a infância em Santa Cruz do Sul

memoria 1Escrito Por Arnaldo 'Chico' Lamb

AGUDO/RS - Durante uma visita recente ao Rio Grande do Sul, Alcides Cecatto, conhecido como 'Véio Cecatto', atual morador da Estância Três Lagos, Distrito de Serra Dourado, Canarana-MT, reviveu memórias marcantes de sua infância, quando então remonta ao ano de 1961.

Ná época com apenas 14 anos, ou seja, há 63 anos, sua viagem iniciada em Três Passos (RS), foi um episódio marcante em sua vida: o convite para ingressar no Seminário pelos padres que ministravam missas na região do Alto Uruguai.

Contudo havia um incentivo maior para estudar no Seminário, pois seu primo Luiz Silvestre já frequentava o Seminário Nossa Senhora Medianeira em Agudo (RS) no qual residiam 147 meninos de 11 a 16 anos.memoria 2

O trajeto incluiu paradas em Santa Cruz do Sul, e de trem até Santa Maria e, finalmente, Agudo, onde a rotina do jovem seminarista começaria. Entre as diversas lembranças, destaca-se um episódio em que visitou uma lavoura de arroz às margens do Rio Jacuí.

Após o fechamento das condutas – comportas - que irrigavam o arrozal, o local seco, expos uma grande quantidade de peixes. "Passamos o dia inteiro pegando. Enchemos a caçamba de três caminhonetes. Foi um período de abundância no seminário, com peixe à mesa por dias”, recorda ele.

Entretanto, nem todas as memórias são tão leves, além da saudade de casa, da família, (ficavam um ano longe dos seus, além de não ter comunicação). Alcides lembra a rigidez disciplinar imposta pelos Padres.

Um dos castigos dado àqueles que cometiam erros, que quando não falassem o português corretamente, recebiam uma medalha, a qual simbolizava uma falha. Então, diz Alcides: "No fim de semana, quem acumulava medalhas era castigado com chibatadas, através do uso do cíngulo, (o cordão usado na cintura pelos religiosos)".

No seminário, Alcides também desempenhou o papel de sacristão, o que lhe dava acesso às hóstias e ao vinho usados nas missas. Ele ainda confessa que, antes de serem consagrados as hóstias e o vinho, em um feito desses, dentro da sacristia, quando estava a preparar os rituais da missa, aproveitou para experimentar ambos, um episódio que ele relembra com humor.

Contudo o Frei ao perceber a diminuição do estoque, também aplicou as famosas chibatadas. As aulas, lembra, eram rigorosas, especialmente as ministradas pelo único professor leigo e pelo Frei Timóteo – Promotor há época; o Diretor nesse período era o Frei Gervásio,

Mas o período no seminário chegou ao fim de forma abrupta. Durante as férias, em 3 de dezembro, ao retornar à localidade de Tiradentes, em Tenente Portela (RS), Alcides perdeu o pai apenas quatro dias depois.

Com uma família numerosa de 10 filhos, sua mãe decidiu que ele não retornaria ao seminário, pois precisava de sua ajuda na lavoura para se sustentarem.
“Eu era o segundo mais velho e pude ajudar a sustentar a família”, relembra.

Durante sua visita recente (29/11/2024), Alcides foi recebido por Frei João Luiz, que lhe abriu as portas do Seminário Nossa Senhora Medianeira (07 Km no interior de Agudo-RS), proporcionando um reencontro com o passado.

Frei João Luiz também apresentou detalhes históricos sobre o local, construído em 1928 pelas Irmãs de Carazinho. O seminário, que será reaberto em 2025 com a Pedagogia da Alternância, traz a promessa de uma nova etapa de educação na região.

Reviver esses momentos foi uma experiência intensa para Alcides. “Ao visitar os lugares que marcaram minha trajetória, relembrei com emoção os caminhos que percorri e o que me tornou quem sou hoje”, concluiu ele. (Escrito por Arnaldo Lamb com fotos)

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