Cinquentenário de Água Boa: casal relembra a saga da fundação da cidade em entrevista exclusiva - veja vídeo
ÁGUA BOA - Em uma conversa exclusiva com o Notícias Interativa, o casal pioneiro Edson Jacob Müchel e Odila Müchel compartilhou detalhes emocionantes sobre a chegada e o desenvolvimento do município de Água Boa, que completa 50 anos de história no Vale do Araguaia. Vinda de Carazinho, Rio Grande do Sul, em fevereiro de 1970, a família Müchel desbravou o então inóspito território mato-grossense, marcando o início de uma trajetória de trabalho árduo e contribuições significativas para a região.
A decisão de migrar para o Mato Grosso surgiu de uma conversa entre Edson e um amigo, que o convenceu sobre o potencial daquelas terras, comparando-as à "Terra Prometida". A mudança foi rápida e determinada: em poucos dias com sua mudança, quatro mulas em um caminhão, e eles em uma caminhonete rural, iniciaram uma viagem de doze dias rumo ao desconhecido.
A chegada em Barra do Garças, em 12 de fevereiro de 1970, foi o primeiro passo antes de se estabelecerem na área que viria a ser Água Boa. Na época, existia apenas a Fazenda Santa Maria, da qual Edson adquiriu 2 mil hectares. Seu primeiro contato na região, ainda em 1969, havia sido com Paulo Jacob Thomas, então gerente da fazenda.
O início da vida em Água Boa foi marcado pela vontade de construir algo novo e independente. Apesar das dificuldades inerentes à época, como a falta de infraestrutura e recursos financeiros limitados, Edson iniciou o trabalho na terra com determinação. Em 1971, já residia em sua propriedade e, em 1972, planejava o futuro.
Um momento crucial foi a busca por financiamento no Banco do Brasil para plantar arroz, a primeira cultura cultivada na propriedade. A incredulidade do gerente local diante da ideia de plantar arroz no Cerrado não desanimou Edson, que insistiu em seu plano. Diante da recusa inicial, ele buscou apoio no Banco Central, através de uma carta redigida com a ajuda de um amigo em Barra do Garças. A resposta foi surpreendente: em poucos dias, um inspetor do Banco do Brasil chegou à região, viabilizando a liberação do financiamento e a chegada de maquinário agrícola em setembro de 1973.
Edson também relembrou a criação do nome "Vau dos Gaúchos" para a localidade onde inicialmente se estabeleceu, fazendo referência a um córrego de boa qualidade e à chegada de outras famílias sulistas. A partir desse núcleo, e com a colaboração de outros pioneiros, surgiu a ideia de formar uma cidade. O colonizador Norberto Schwantes teve um papel importante nesse processo, buscando o apoio de Edson para encontrar terras adequadas para a fundação de um município. Essa busca levou à escolha da área da Fazenda Tanguro, dando origem à cidade de Canarana.
Posteriormente, em 1975, surgiu a oportunidade de colonizar a área onde hoje se encontra Água Boa, através da venda de 12 mil hectares pertencentes a João e José Figueiredo. Norberto Schwantes adquiriu a propriedade, dando início à formação do núcleo que viria a se tornar o município de Água Boa. O nome foi inspirado no Córrego Vau dos Gaúcho, em reconhecimento à qualidade de suas águas e à iniciativa de Edson.
Apesar de não figurar como o primeiro agricultor no livro da fundação de Água Boa, Müchel é reconhecido como uma figura central no pioneirismo da região. Hoje, aos 92 anos e residente em Querência, ele celebra o legado de sua família, que conta com 72 pessoas entre filhos, netos, bisnetos e agregados, espalhados por diversas cidades do Vale do Araguaia.
Ao final da entrevista, Edson deixou uma mensagem para as novas gerações, incentivando a luta e a perseverança diante das dificuldades. Questionado se faria tudo novamente, ele ressaltou que o sistema atual é diferente, mas que na sua época, com trabalho e dedicação, era possível prosperar a partir do nada. Ele também expressou seu carinho pelos amigos que permaneceram em Água Boa e agradeceu o reconhecimento de seu trabalho, mencionando inclusive que o aeroporto local leva o nome de Nelson Jacob Michel, seu nome de batismo.
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