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Conheça: Quelônios do Araguaia

Foto: Airton IappeAproveitando a desova das tartarugas no Rio das Martes, fomos visitar o Refúgio de Vida Silvestre, Quelônios do Araguaia, coordenada pelo executor do projeto Gaspar Alves da Silva, auxiliado pelo auxiliar Felisberto Saturnino Rocha, funcionário da SEMA. O local, localizado na beira de um lago conhecido por Lago Feio, pois na cheia as águas ficam com cheiro e aspecto podres.

O processo acontece por causa do material que apodrece nas áreas que são tomadas pela enchente e vem por meio do córrego.

Chegando no local, o Sr. Gaspar informou que neste ano cerca de 260mil tartaruguinhas já desovaram nesta temporada, dentre estas foram encontradas duas albinas, sendo que teriam encontrado só mais uma, ou seja, três albinas em cerca de 260 mil tartarugas, sendo que nos cálculos deles, pelo menos umas 150mil devem ter se afogado por causa do alagamento prematuro das praias.

Ainda, na chegada, tinham colhido mais de 1.200 tartaruguinhas que se encontravam em um barco. Oportunamente vamos largar elas em lugar próprio, onde facilita a sobrevivência por conta dos inúmeros predadores.

Conforme o Sr. Gaspar, entre os principais predadores está o Jacaré, que nesta época ficam gordos pela quantidade de tartaruguinhas que consomem. Mas pássaros, roedores e tudo mais fazem a festa, a ponto de acreditar que apenas 2% das tartarugas chegam a vida adulta.

Interessante observar o imenso carinho e dedicação ao Projeto, que protege um processo extremamente sensível por utilizar de praias, facilmente identificadas por pescadores que aproveitam essa fragilidade, tanto das matrizes, como dos ovos. Ao mesmo tempo, trata-se de uma estrutura extremante frágil do IBAMA, com pouco apoio central, que se mantém essencialmente pelo carinho que os funcionários dedicam ao Projeto.

Às 17:00 horas nos deslocamos até a Praia da Gaivota, local onde foi colocada uma tela de proteção, que além de repelir o ataque impiedoso dos jacarés, permite a retenção e contagem das tartaruguinhas, que conforme informado pelo executor do projeto, ao longo dos 34 anos de criação do refúgio, já contabiliza algo em torno de 8 milhões de tartaruguinhas protegidas durante o processo de incubação dos ovos e o nascimento dos filhotes, onde a principal ameaça é representada pelo ser humano que desequilibra esse frágil processo de perpetuação dessa espécie de tartaruga

Interessante, que se as águas subirem antes do fechamento do cordão umbilical, elas morrem afogadas dentro da cova. No momento que a areia da praia fica com menos de 70 cm seca, profundidade aproximada das covas, elas se afogam, ou os ovos apodrecem. Encontramos algumas covas mais próximas da água já comprometidas, com cheiro horrível.

Para proteger as tartaruguinhas, um dos agentes dorme em uma barraquinha montada na praia, atuando em algumas situações, como os jacarés durante a noite e os urubus, carcaras e outros pássaros no amanhecer, até um rasto de jaguatirica encontramos na praia.

Encontramos centenas de cascos de tartaruguinhas que não tiveram sorte na difícil tarefa de alcançar as águas do rio. Interessante ver o jacaré atacando aqueles que chegaram ao rio, só um estralo e mais uma se foi. Mas a natureza é sabia, sem a interferência predatória do homem isso seria normal, mas com grande parte das praias sem proteção, esta precisa ser preservada e uma maior quantidade precisa se salvar dos predadores naturais.

Já no outro dia saímos cedo pela manhã (6:00 hs) até a Praia da Garça, onde o agente já está desde o amanhecer mantendo urubus, carcarás e outros predadores afastados. Nas telas, milhares de pequenas tartarugas se amontoam. Passamos recolhendo todas e depois despejamos na beira do rio, salvos as aves, só precisam enfrentar os jacarés e alguns peixes para sobreviver.

Interessante, sem uma avaliação no local, desavisadamente poderia se supor que está sendo feito uma interferência no processo natural, mas com as invasões das praias por pescadores, quando temos apenas algumas praias protegidas, é necessário que nestas, tenhamos um número maior de sobreviventes o que vem garantido o repovoamento em locais no Rio das Mortes onde elas já tinham desaparecido.

Fiquei absolutamente impressionado com a excepcional dedicação dos agentes por esse trabalho que merece todo o respeito e apoio de cada um de nós, que aqui na cidade não tem noção das atrocidades cometidas por muitos de nossos semelhantes e uns poucos, que no silêncio, se dedicam a corrigir os desiquilíbrios que criamos.

Volto extasiado e com desejo de contribuir para que o trabalho no Projeto Quilôneos continue, principalmente que não se perca o impressionante conhecimento que os agentes (Sr. Felisberto e Sr. Gaspar) tem da desova, eclosão dos ovos e o comportamento dessa espécie de tartarugas, que depois de algumas horas de conversa passaram informações que só é possível aprender neste tipo de visita que fizemos ao local.

Elton Iappe – 22 12 2017

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