De botas opressoras - Editorial de Eduardo Gomes
Mato Grosso não respeita o Vale do Araguaia. Aquela promissora região somente é lembrada pelo Estado na hora da cobrança dos impostos e pelos políticos quando das eleições estaduais. Em razão do tratamento a pior e do abandono administrativo crônico que atravanca seu desenvolvimento o Araguaia precisa lutar por emancipação. O povo que vive na área compreendida entre a margem esquerda do Araguaia e a direita do Xingu tem que protestar, uma vez que sua omissa classe política nada faz.
Além de não receber obras do governo o Araguaia sequer é respeitado na composição do secretariado e dos principais órgãos estaduais. É assim no mandato do governador Silval Barbosa (PMDB) e não foi diferente com seus antecessores Blairo Maggi (PR), Dante de Oliveira (PSDB), Jayme Campos (DEM), Carlos Bezerra (PMDB) e Júlio Campos (DEM).
No Araguaia estão em curso duas importantes obras: a pavimentação da BR-158 acima de Ribeirão Cascalheira e até o Pará, e a ponte sobre o rio Araguaia ao lado da cidade de Cocalinho. A primeira, lenta e sempre sob denúncia de superfaturamento é tocada pelo Ministério dos Transportes. A outra, embora seja uma construção na divisa de Mato Grosso e Goiás é executada somente pelo governo goiano enquanto o Palácio Paiaguás assiste a tudo de camarote, sem que Silval sequer fique corado.
A falta de respeito acontece porque aquela região é incompetente politicamente. Na hora do voto, acompanhando falsos líderes municipais daquelas bandas, o cidadão elege candidato de outras regiões, os chamados “Copa do Mundo” – que a cada quatro anos aparecem por lá. Hoje, sem representante no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa, o Vale do Araguaia não tem voz nem vez.
O eleitor do Araguaia precisa assumir as rédeas políticas em seus municípios. Trocar os ditos líderes atuais por outros, realmente compromissados com a região. Está comprovado o fracasso da geração de Adalto de Freitas, Naftaly Calisto, Maurício Tonhá, Fernando Gorgen, Wanderlei Farias, Tarzan, Édio Brunetta, Sílvio Calisto, Walter Lopes Farias, Neldo Egon, Mario Cesar Barbosa, Filemon Limoeiro, João Mara, Bananeiro, Evaldo Diehl, Alencar Soares, José Arimatéia, Denir Perin e tantos outros.
O desencanto aumenta a cada dia no Vale do Araguaia porque o povo de lá sente na pele o abandono e vê sua região totalmente alijada do poder de decisão administrativa no governo. Silval acaba de nomear secretários e diretores de órgãos estratégicos e nenhuma dessas figuras é do Araguaia.
Alguém pode dizer que o fatiamento do poder observa critérios partidários, mas nem assim se justifica a falta de representantes do Araguaia, porque naquela região os partidos de sustentação ao governo se fazem presentes com seus dirigentes, filiados e militantes.
Em 2010, o então prefeito de Água Boa, Maurício Tonhá, ficou à disposição do PR para ser candidato a governador, vice-governador, ao Senado ou suplente de senador. Os republicanos debocharam e sequer botaram seu nome na pauta das discussões. Mesmo assim, Maurício Tonhá permaneceu fiel partidariamente e trabalhou nas eleições para o deputado federal Homero Pereira, que mora em Cuiabá.
Recentemente surgiram rumores nos meios políticos em Cuiabá sobre a provável nomeação do ex-prefeito de Vila Rica, Naftaly Calisto (PMDB) para a presidência do Instituto de Terras do Estado (Intermat), mas tudo não passou de balão de ensaio.
Enquanto no Vale do Araguaia a classe política repetir o que fez Maurício Tonhá – apoiando candidato de fora -, aquela região permanecerá com a pecha de Vale dos Esquecidos e seu povo continuará carregando o pesado fardo que o governo lhe joga nas costas.
Enquanto os Naftaly forem descartados do governo e a região não reagir, o Vale do Araguaia terá que se contentar com as migalhas administrativas do Palácio Paiaguás.
Comprovado está que a estrutura do poder em Cuiabá não abre espaço a candidatos do Vale do Araguaia nem quer representantes daquela região compartilhando a administração estadual.
Que o cidadão do Vale do Araguaia assuma sua cidadania plena, busque novas lideranças, exorcize a classe política que nos últimos anos navegou em incompetência e que faça daquela região o embrião de um novo Estado, que mais dia menos dia haverá de nascer para que sua gente tenha melhor qualidade de vida e não fique mais sob a sola das botas opressoras como ora acontece.
Fonte: MT Aqui Online