Featured

De mapas - EDITORIAL DE Eduardo Gomes

Não faço apologia ao crime e condeno a violência. Mesmo assim pergunto: qual a reação de uma população pobre arrancada ao cano da metralhadora de suas casas ao ver um caminhão da Funasa carregado com cestas básicas destinadas a índios tentar furar um bloqueio em protesto à desocupação de suas casas e lavouras para ceder espaço exatamente a indígenas?
No conforto da sala, bebendo cerveja gelada e se empanturrando com carnes nobres em comemoração à virada do ano nesse período natalino, pode ser que algum desinformado faça coro com os militantes da ecoloucura e os conspiradores contra a integridade nacional entendendo como crime gravíssimo tal fato protagonizado por mãos calejadas, hoje, no Vale do Araguaia, mais precisamente numa área antropizada de 167 mil hectares – rural e urbana na vila de Estrela do Araguaia - da antiga Fazenda do Papa (Sua Santidade, em carne e osso) nos municípios de Alto Boa Vista, São Félix do Araguaia e Bom Jesus do Araguaia. O incêndio do caminhão merece entendimento mais amplo do que a ocorrência policial em si.
Milhares de brasileiros que nunca tiveram assistência do governo e que vivem a plenitude da ausência do Estado tocaram fogo num caminhão que transportava alimentos para índios parrudos, que vivem em latifúndios étnicos sem disposição para produzir nem coragem para pesca ou caça.
A reação brotou do inconsciente coletivo daquela gente humilde, que sequer teve oportunidade para esquentar bancos escolares. Isso, porque em cada rosto daqueles miseráveis sociais há sulcos de desilusão e desencanto com o país onde nasceram.
Deve ser penoso demais estar à beira da estrada, sem rumo, de bolsos vazios e sem a mão protetora do Estado e, nessa situação, ver passar alimentos para índios que vivem nababescamente nas aldeias, que possuem caminhonetes importadas, usam celular, assistem TV em aparelhos de última geração e que somente gozam de direitos sem terem nenhum dever.
Desobediência civil é crime gravíssimo, mas insensibilidade do Estado é mais grave ainda. O Brasil de Brasília, com sua faixa presidencial, togas e tribunas fere a alma nacional, mutila sonhos, castra a cidadania, empurra homens honrados ao crime, induz meninas na puberdade à prostituição e meninos ao tráfico formiguinha.
Mesmo em se tratando da Funasa, que está sempre atolada em denúncias de corrupção em Mato Grosso, é preciso conter o ímpeto e não transformar em cinzas o caminhão do clientelismo.
O que peço nesse momento é que a mão de Deus proteja os moradores da antiga Fazenda do Papa, oficialmente rotulada de Suiá-Missú e agora rebatizada terra indígena Marãiwtsede.
Deus não faltará ao povo que ora é vítima da decisão hitleriana para atender interesses das ONGs que preparam o bote para a supranacionalização da Amazônia.
Que a mão de Deus também proteja o distrito de Jarudore (em Poxoréu); as cidades de Nova Nazaré e Tabaporã; e as vilas de Santa Clara do Monte Cristo e Nossa Senhora Aparecida (no município de Vila Bela da Santíssima Trindade) porque o efeito dominó da antiga Fazenda do Papa foi projetado para varrê-las do mapa.
* Eduardo Gomes - Editor Revista MTAqui - www.mtaquionline.com.br

Confira Mais Notícias