É preciso rever a questão indígena
Não sou versado em antropologia, me manifesto aqui como reles mortal que sou, a rigor nem deveria opinar por total falta de conhecimento de causa, gostaria sim de ouvir e aprender com os confrades.
Tais questões são de alta complexidade, a história nos mostra que os povos que não conseguiram se adaptar às mudanças e ao novo, desapareceram, exemplo disso, os Fenícios, os Vikings, e tantos outros. Os povos indígenas brasileiros se não se adaptarem tendem ao mesmo fatal destino.
Há anos tenho dito e repetido que temos uma dívida enorme em relação aos índios, outro dia mesmo em almoço com amigos, na sociedade Orpheu em São Leopoldo/RS, toquei neste assunto.
Fala-se muito na questão do negro, na dívida social em decorrência da escravatura, mas não se fala na questão indígena. O Presidente da República foi à África pedir perdão pela escravização dos aborígenes africanos, penso que é correto pedir desculpas quando se erra, mas confesso que fiquei em dúvida neste caso específico, ou por não sentir sinceridade do presidente naquele gesto que me soou muito mais como demagógico, além do que, também fiquei em dúvida por outras questões, pois, a República Federativa do Brasil nunca se envolveu com a escravidão, isso teve início no império português, a república do Brasil nem existia naquela época, então, talvez, coubesse aos descendentes da família real portuguesa formular esse pedido de perdão.
Os próprios africanos tiveram sua parcela de responsabilidade, muitas tribos trocavam seus filhos por cachaça, açúcar, alimentos. Tribos rivais faziam prisioneiros em conflitos e vendiam-nos para árabes e europeus. Existia também a escravidão por dívidas.
Com o surgimento do ideal liberal e da ciência econômica na Europa, a escravatura passou a ser considerada pouco produtiva e moralmente incorreta. Em 1850, no Brasil, pela Lei Eusébio de Queirós, o tráfico de escravos tornou-se ilegal e com penalidade de prisão para os traficantes, mesmo tendo se tornado uma atividade ilegal o tráfico persistiu ainda por muito tempo. Até hoje eu não vi nenhum presidente de país produtor de entorpecentes vir ao Brasil pedir perdão pelo tráfico de drogas, especialmente do crack, que está matando a juventude brasileira.
O Brasil na gestão de José Serra no Ministério da Saúde foi o primeiro país no mundo a instituir o tratamento totalmente gratuito contra a AIDS beneficiando milhares de pessoas. Depois o Brasil estendeu esse tratamento gratuito à países africanos, perdoou dívidas desses países para com o Brasil, transferiu gratuitamente tecnologia agrícola de ponta, específica para clima tropical, desenvolvida aqui.
Estou de acordo com tudo isso, penso que avançamos muito no resgate desse débito histórico com os povos africanos.
É bom que se diga também, que entre o século XVI e o século XVIII estima-se que cerca de 1,25 milhões de Europeus cristãos foram capturados por piratas e forçados a trabalhar como escravos no Norte de África, e isso ninguém comenta.
Segundo a National Geographic, há mais escravos hoje do que o total de escravos que, durante quatro séculos fizeram parte do tráfico transatlântico e isso também não tem merecido a devida atenção.
Está na hora de começamos a rever a questão indígena, sobretudo, abandonando as atuais políticas fantasiosas e inexequíveis que mais se prestam para criar tensões e conflitos do que soluções, e estabelecer políticas realistas e factíveis que consigam conciliar a preservação das tradições culturais desses povos com a sua emancipação política e econômica e a sua inserção na sociedade em igualdade de condições e não como cidadãos de segunda categoria, do contrário, conforme o determinismo histórico, eles desparecerão.
João Francisco Rogowski